terça-feira, maio 01, 2007

Embaraços



Situações embaraçosas. Como contar uma graça e a audiência não se rir.Silêncio.Tropeçar em público e voar em direcção ao chão. Silêncio.A angústia que reside no momento do desequilibrio em que sabemos que vamos cair, que toda a gente vai ver, que vai doer, e que podemos fazer? Nada.Situações embaraçosas. Ir a conversar na rua com o amigo que pára para atar os atacadores mas continuamos a falar sobre a nossa vida sexual, mas já não é com o nosso amigo que desabafamos mas sim com uma senhora forte de xaile cor-de-rosa que olha para nós com aquele reprovar característico de quem vê tarados em todos os jovens abaixo dos trinta. Estar num café a conversar com um conhecido de conhecido de que não sabes o nome, porque não ouviste ou porque ninguém achou importante dizer, então ali estás a trocar ideias profundas com um estranho enquanto tentas desesperadamente em conversas alheias apanhar a resposta. Mas, no meu historial de vergonhas e faces coradas pior que tudo isto é comer sozinho. Uma das vezes em que a companhia fugiu e que não havia resposta para as minha frases, apenas uma concha de arroz e uma mão de batatas fritas a sorrirem-me num prato semi lavado, sentei-me no canto de uma das enormes mesas de uma das enormes cantinas da cidade. Mesmo ao cantinho. Era inexperiente na vida de cantina, não estava a par dos rituais e dos conselhos de quem por aqui passou. Por isso deixo então o meu conselho : nunca se sentem sozinhos na ponta junto à parede. Porquê? Porque podem ser rodeados por um grupo de vinte pessoas, que se sentam ao lado, à frente, todo o teu espaço de introspecção e de calma é invadido pelo Ricardo, pela Joana, pelo Francisco, pelo Tomás e pelos restantes compinchas. Todos os outros lugares estão ocupados, restando apenas esta porção de terra onde existo eu, acampado com a minha pequena tenda e inferior a toda a cavalariça de um grupo armado. Fico então encurralado na vida do Ricardo que andava com a Joana, que teve só 16 no exame de recurso, ao contrário do Tomás que não passou, “fica para o ano” diz ele queixando-se da ressaca que o atormenta, a noite passada foi dura, para ele e para o Francisco que fez figuras tristes no convívio de Farmácia, e riem alto esquecendo que estou ali e que ainda vou na sopa. Nestas situações todo o processo de mastigar é acelerado e o desejo de estar noutro lado qualquer nunca foi tão grande. Depressa engulo o que falta e na hora da despedida ainda penso se digo algo ou não, mas volto rapidamente à realidade de não os conhecer de lado nenhum e timidamente me levanto e sigo viagem. Desde então em refeições solitárias sou muito mais cuidadoso, ou escolho uma mesa onde não caiba mais ninguém, ou fico numa ponta mais aberta e arejada com saída directa para a normalidade.

1 comentário:

Jp disse...

Oh bebé, mas de onde é que conheces aquela malta?Gajos esquisitos...

Agora a sério, gostei...